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A senhora das senhoras e a autonomia.

  • anateresamendes5
  • 1 de abr. de 2024
  • 1 min de leitura

Há pouco tempo, enquanto "empurrava" a cadeira de rodas de minha mãe - aspas necessárias - não entendia o que hoje entendo.

Eu empurrava uma cadeira sem perceber o que de fato acontecia.

A escutava dizer que queria entrar de costas no elevador, mas não a ouvia. Eu queria entrar do meu jeito.

Não entendia que aquela fala dizia de uma sujeita e que eu não apenas a empurrava, eu a conduzia.

Ela já cerceada de parte de sua independência, se mantendo incansável na manutenção de suas vontades e autonomia.

E eu, mesmo com todo o meu amor, a subtraia.

Simplesmente eu não percebia.

Não sabia o que agora sei! Não sentia o que agora sinto!

Ela e sua cadeira compondo como em um ato, a dança de uma só.

Ela, a cadeira, aos poucos tornando-se parte da mulher.

Ela a mulher!

Aquela que veio antes de mim. De minha filha. A nossa anciã!

A Senhora das Senhoras.

Seu corpo se ajustando às novas circunstâncias e negociando com ela, a Senhora, a relação com a cadeira.

Aos poucos, em um jogo de bem me quer, mal me quer a Senhora das Senhoras, vai criando familiaridade com a cadeira, artefato até ontem, indesejado e alheio.

De tudo, venho aprendendo que tocar na cadeira de minha mãe, é como tocar em seu ombro ou lhe dar as mãos.

Agora primeiro a ouço, e se em silêncio ela estiver, escolherei muito bem a quem darei a honra de conduzir sua cadeira.

Texto escrito em maio/2022.



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